empreendedorismo s.m. (1762) 1 capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos 2 iniciativa de implementar novos negócios 3 realização de mudanças em empresas já existentes 4 conjunto de conhecimentos relacionados ao empreender
individuação s.f. (1674) 1 ação de individuar-se 2 aspecto único e singular; singularidade 3 realização de uma espécie, de uma ideia geral em um indivíduo 4 processo por meio da qual uma pessoa se torna consciente de sua individualidade
1. INTRODUÇÃO
O Processo de Individuação é um conceito fundamental da psicologia analítica desenvolvida por Carl Gustav Jung, que descreve a jornada de um indivíduo em direção à realização de seu potencial completo e único.
Jung desenvolveu sua teoria a partir de 1912, após o rompimento com Sigmund Freud e sua linha de pensamento exclusivamente sexualista, abrindo-se para um campo de estudo infinitamente maior do inconsciente, que englobaria Religião Comparada, Alquimia, Astrologia e até Paranormalidade – assuntos de interesse comum na Europa pré-Guerra.
Já no pós-Guerra, em 1949, Joseph Campbell – mitologista norte-americano influenciado pelas idéias de Jung – publica o livro “Heróis de Mil Faces”, obra que ficou famosa pela apresentação da Jornada do Herói, estrutura narrativa presente nas mais diversas mitologias da humanidade, onde se parte de um mundo comum, aventura-se por regiões sobrenaturais e retorna-se transformado trazendo benefícios à sua comunidade – algo semelhante ao Nobre Caminho Óctuplo descrito no Budismo.
O processo empreendedor, por sua vez, é o caminho percorrido por um indivíduo, desde a percepção de oportunidade até a materialização de sua inspiração. Semelhante à Jornada do Herói, com suas fases bem características, inicia-se em um mundo comum, passa-se por experiências novas e desafiadoras e chega-se a uma maturidade que permite ao empreendedor entregar algum benefício percebido coletivamente.
Tal maturidade equivaleria à Individuação descrita por Jung, bem como a Coniunctio alquímica, a Conjunção astrológica e a Sincronicidade intencional na paranormalidade, que vai além da Iluminação budista.
A seguir, apresentaremos as fases da Jornada do Herói e sua relação com Empreendedorismo, sob os limites das categorias Logística e Mística, destacando as etapas da Iluminação Budista e as fases do Processo de Individuação, ambos presentes nessa estrutura narrativa.
2. DESENVOLVIMENTO
a. O Mundo Comum
Na Jornada do Herói, o ponto de partida é o “Mundo Comum”, onde o herói reside em sua realidade diária, marcada por rotinas e desafios não resolvidos. Esta fase é caracterizada pela presença da dor, um elemento comum que sinaliza a necessidade de mudança.
Da mesma forma, no processo empreendedor, esse estágio corresponde à Zona de Conforto. Aqui, o empreendedor se sente seguro e no controle, apesar de uma subjacente sensação de insatisfação, decorrente da ignorância da real situação em que se encontra.
Do ponto de vista budista, essa ignorância é a raiz de todo sofrimento, decorrente de uma visão distorcida da realidade. Essa fase é marcada pela inconsciência dos impulsos instintivos, desejos e conteúdos psíquicos não expressos.
No contexto da Psicologia Analítica de Jung, o “Mundo Comum” representa o estado inicial em que o indivíduo ainda não se deparou com o chamado para a Individuação. A vida prossegue em uma aparente normalidade, mas, sob a superfície, o Self aguarda o momento de iniciar sua jornada de realização.
b. O Chamado à Aventura
O herói, então, se depara com um conflito ou uma situação insustentável, que o chama para uma missão fora de sua Zona de Conforto. Este é o “Chamado à Aventura”, o impulso que inicia a mudança.
No empreendedorismo, esse chamado se manifesta na forma de uma oportunidade percebida, uma inspiração que surge das mudanças no cenário social e político, impelindo o empreendedor a criar algo novo.
Na doutrina budista, essa percepção de oportunidade se assemelha à intenção de libertar-se dos apegos que condicionam o indivíduo ao ciclo de dor, marcando o início de uma jornada de libertação.
No Processo de Individuação, o indivíduo toma consciência de aspectos de si mesmo que haviam sido negligenciados, iniciando um movimento em direção à integração e à totalidade do ser.
c. A Recusa do Chamado
É comum que o herói, inicialmente, hesite ou recuse o chamado, seja por falta de autoconfiança, medo ou simples resistência à mudança. Essa é a “Recusa do Chamado”, um estágio de inércia e dificuldade em abandonar o “Mundo Comum”.
No empreendedorismo, o medo de enfrentar o mercado e a incerteza sobre as próprias capacidades podem paralisar a ação, refletindo essa recusa.
No Budismo, o apego e a aversão ao sofrimento neuroquímico são equivalentes à Recusa do Chamado, uma resistência à jornada em direção à liberdade espiritual.
Na jornada à Individuação, essa recusa pode se manifestar como uma projeção das próprias limitações em estruturas externas ou outras pessoas, um mecanismo de defesa baseado no medo.
d. O Encontro com o Mentor
A superação da recusa muitas vezes ocorre com a ajuda de um mentor, que fornece orientação, apoio e, às vezes, um artefato especial que será crucial na Jornada do Herói.
No empreendedorismo, esse mentor pode ser um profissional experiente que oferece conselhos valiosos, ajudando o empreendedor a superar seus medos e a avançar em seu projeto.
Na prática budista, a meditação desempenha um papel semelhante, oferecendo um meio para aprofundar a consciência e compreender a origem da dor, iniciando o processo de integração da Sombra.
No Processo de Individuação, o mentor pode ser uma figura interna ou externa que ajuda o indivíduo a enfrentar e integrar aspectos reprimidos de Si Mesmo, promovendo a transformação pessoal.
e. A Travessia do Limiar
Com a ajuda do mentor, o herói está pronto para “A Travessia do Limiar”, deixando para trás o mundo conhecido e adentrando um domínio desconhecido, repleto de desafios e revelações.
No mundo do empreendedorismo, esse é o momento em que o empreendedor dá o salto inicial, começando efetivamente a construir seu negócio e aprender sobre ele na prática.
No Budismo, a meditação contínua leva o praticante a explorar profundidades internas desconhecidas, um processo de descoberta e confronto com os próprios demônios internos.
No caminho da Individuação, a travessia simboliza o início da confrontação com o inconsciente, um mergulho nas águas profundas da psique para descobrir e integrar os elementos desconhecidos do Self.
f. Testes, Aliados e Inimigos
À medida que o herói avança, enfrenta “Testes, Aliados e Inimigos”, desafiando suas habilidades e forjando alianças, enquanto também encontra obstáculos e adversários que testam sua resolução.
No empreendedorismo, essa fase é marcada pela experimentação e ajuste, onde o empreendedor testa sua oferta, ajusta processos e identifica tanto apoiadores quanto concorrentes.
No caminho budista, o praticante pode enfrentar Mara, o demônio da ilusão, uma personificação dos desafios internos que surgem durante a meditação e a busca pela iluminação.
Na jornada rumo à Individuação, o indivíduo se depara com testes internos, enfrentando e integrando a Sombra, além de reconhecer aliados internos, como aspectos antes desconhecidos de si mesmo.
g. Aproximação da Caverna Oculta
O herói se aproxima agora da “Caverna Oculta”, o coração de sua jornada, onde enfrentará seus maiores medos e desafios. Este é o teste definitivo, onde o herói deve usar tudo o que aprendeu.
No empreendedorismo, essa pode ser a fase de introspecção profunda, onde o empreendedor reflete sobre os verdadeiros motivos por trás de sua jornada, enfrentando seus medos mais profundos.
Para o praticante budista, este é o momento de confronto direto com Mara, simbolizando a iminente superação dos últimos obstáculos à iluminação.
No Processo de Individuação, essa fase representa o encontro confrontante com a Sombra em sua totalidade, um período de intensa introspecção e transformação.
h. Provação Suprema
O ponto culminante da jornada é a “Provação Suprema”, um momento de crise que exige que o herói se supere, enfrentando a maior das adversidades e, muitas vezes, enfrentando a morte, seja literal ou simbólica.
No empreendedorismo, esse momento pode ser representado pelo lançamento de um produto ou serviço ao mercado, enfrentando a verdadeira prova de sua viabilidade e aceitação.
Na prática budista, é o confronto final com Mara, onde o praticante deve resistir às últimas tentações e distrações antes de alcançar a iluminação.
Na Individuação, a integração da Sombra e a reconciliação dos opostos internos se manifestam como a fonte de uma nova energia, simbolizando a superação da maior prova interna.
i. Conquista da Recompensa
Após superar a prova máxima, o herói conquista a “Recompensa”, alcançando o objetivo de sua jornada. Esse prêmio pode ser um tesouro, o conhecimento secreto, ou uma transformação interior profunda.
No empreendedorismo, a recompensa pode ser o sucesso do negócio, onde o empreendedor finalmente vê o fruto de seu trabalho e dedicação.
Para o praticante budista, a recompensa é a iluminação, o Satori, alcançada após intensa prática meditativa, marcando o fim de um longo período de busca interior.
Na jornada à Individuação, embora a iluminação possa não ser alcançada em sua totalidade, a integração de aspectos desconhecidos do Self marca um ponto de transformação significativa.
j. Caminho de Retorno
Com a recompensa em mãos, o herói inicia o “Caminho de Retorno”, onde deve reintegrar o mundo comum, agora transformado pela jornada. Este é um período de reflexão e integração das lições aprendidas.
No empreendedorismo, o retorno pode representar a fase de consolidação do negócio, onde o empreendedor reflete sobre a jornada e aplica os aprendizados para sustentar e expandir seu empreendimento.
No Budismo, após alcançar a iluminação, Buda enfrenta a decisão de ensinar ou não seus insights, representando seu caminho de retorno ao mundo, para compartilhar sua sabedoria.
No Processo de Individuação, o encontro com a Ânima ou Ânimus simboliza a reintegração de aspectos masculinos e femininos do psiquismo, promovendo um equilíbrio e uma harmonia internos renovados.
k. Ressurreição
Nesta fase, o herói deve enfrentar um último teste, muitas vezes um confronto final com o inimigo ou um desafio final que testa sua transformação. É a “Ressurreição”, onde o herói emerge renovado, tendo deixado para trás seu antigo eu.
No empreendedorismo, essa renovação pode se refletir na maturação do negócio, que agora opera a partir de uma base mais estável e consciente, superando desafios antigos e se adaptando a novos.
Para o praticante budista, essa é a tentação final de Mara, e a superação desse desafio simboliza a completa liberação dos apegos, marcando o verdadeiro início da vida iluminada.
No caminho da Individuação, a dinâmica entre os opostos internos alcança uma nova estabilidade, refletindo a integração profunda e a renovação do Self.
l. Tomada de Consciência
Após a ressurreição, o herói adquire uma nova compreensão de si mesmo e do mundo. Esta “Tomada de Consciência” reflete a incorporação da Sombra e uma identidade renovada, diferente daquela com a qual a jornada começou.
No empreendedorismo, essa nova consciência se manifesta no domínio do nicho de mercado, na compreensão profunda do negócio e na capacidade de antecipar e responder às necessidades dos clientes.
Na tradição budista, Buda decide ensinar as Quatro Nobres Verdades e o Caminho Óctuplo, compartilhando o caminho para a iluminação, refletindo sua nova compreensão da existência.
No Processo de Individuação, a integração do masculino e do feminino dentro do psiquismo gera uma nova totalidade, marcando o amadurecimento e a expansão do Self.
m. Retorno com o Elixir
Finalmente, o herói retorna ao ponto de partida, transformado, trazendo consigo um “Elixir” – um bem coletivo ou um conhecimento que tem o potencial de transformar também o mundo ao seu redor.
No empreendedorismo, após a consolidação do negócio, o empreendedor percebe que o impacto mais significativo de seu produto ou serviço é a transformação que ele possibilita, mais do que o lucro gerado.
E Buda, ao decidir ensinar o que descobriu, mesmo sabendo que poucos seriam capazes de compreender plenamente, traz o elixir de sua iluminação para o mundo, oferecendo um caminho para a liberdade do sofrimento.
No fim do Processo de Individuação, a geração de luz através da coincidência dos opostos e o equilíbrio dinâmico alcançado marcam a realização e a contribuição única do indivíduo para o mundo, refletindo a essência da jornada heroica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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