coragem (s.f. 1563) 1 moral forte perante o perigo; bravura, intrepidez, denodo 2 firmeza de espírito para enfrentar situação moralmente difícil 3 qualidade de quem tem grandeza de alma, nobreza de caráter, hombridade 4 determinação no desempenho de uma atividade necessária; zelo, perseverança, tenacidade
influência (s.f sXV) 1 poder de produzir um efeito sobre os seres ou sobre as coisas, sem aparente uso da força ou de autoritarismo 2 ação que se exerce sobre as disposições psíquicas, sobre a vontade de determinada pessoa 3 autoridade, prestígio, crédito desfrutado por alguém numa sociedade ou num determinado campo 4 interferência de fatores externos em um processo ou fenômeno
1. INTRODUÇÃO
A coragem física e a coragem moral estão relacionadas por meio da necessidade de se enfrentar uma realidade dada, superando os desafios físicos e metafísicos impostos.
Aristóteles, por volta de 350 a.C., já dizia que a coragem é a principal das qualidades humanas, pois garante a conquista de todas as demais.
Em um sentido individual, a coragem está por trás de toda Estratégia Pessoal, pois antecede qualquer ação, sendo necessária para se concretizar um planejamento prévio.
Por sua vez, sabe-se que a relação entre corpo e mente não é necessariamente uma novidade, ensejando um aprofundamento nas características dessa retroalimentação.
Desse modo, a seguir, analisaremos a relação entre coragem física e coragem moral, especificamente através das categorias Pessoal e Mística, concluindo sobre as influências de um bom condicionamento físico no comportamento ético individual.
2. DESENVOLVIMENTO
a. Pessoal: A Coragem Física na Coragem Moral
A primeira influência óbvia da coragem física na coragem moral é o desenvolvimento da autoconfiança. É através da superação de desafios físicos que nos sentimos capazes de enfrentar o desconforto dos desafios morais. Assim, quanto mais desafios físicos superarmos, mais capazes de defender posturas morais estaremos, adquirindo maior robustez ética.
Atrelado à autoconfiança, está o controle emocional, ambos presentes na superação de desafios físicos. A coragem física requer o controle das emoções, especialmente do medo – e esse mesmo controle emocional pode ser necessário para tomar decisões éticas difíceis. Ao se aprender a controlar as emoções em situações físicas desafiadoras, nos tornamos mais capazes de controlar nossas emoções em situações éticas complicadas.
Outra característica da influência da coragem física na coragem moral é o desenvolvimento da resiliência. Fisiologicamente, resiliência está associada à rápida recuperação após um esforço físico. Situações físicas desafiadoras e estressantes exigem a superação de dores e desconforto muscular e essa resiliência pode ser transferida para situações moralmente extenuantes, criando a capacidade de superar dificuldades éticas e gerando um comprometimento contínuo consigo mesmo, caso tal superação venha acompanhada de autoconhecimento.
Ainda, a coragem física pode ajudar no incremento da autoestima, que é a avaliação positiva que se tem de si mesmo. Quando conseguimos superar desafios físicos, nos sentimos mais capazes e valorizados e esse aumento da autoestima pode ser transferido para situações éticas difíceis, nos tornando mais confiante frente às consequências possíveis de uma decisão moral difícil.
Conclui-se, parcialmente, que a coragem física cria as bases fisiológicas para a coragem moral. A autoconfiança ganha na superação de desafios físicos, o controle emocional via adestramento consciente, a resiliência ganha na recuperação das adversidades e a autoestima fruto da avaliação positiva sobre si mesmo são características que redundam em robustez ética, superação do medo, comprometimento consigo mesmo e aumento da percepção de valor próprio. Isso é possível quando nos colocamos em situações materialmente desafiadoras, criando um lastro físico que pode ser empregado, também, metafisicamente.
b. Mística: A Coragem Moral na Coragem Física
A motivação está na raiz de todo movimento. Assim, a coragem moral, previamente adquirida, pode ser uma fonte de motivação para superar desafios físicos. Quando possuímos uma causa ou um propósito, relacionada a uma certa robustez ética – conforme ensinamos na Operação Objetivo-Mor – podemos encontrar a motivação necessária para enfrentar desafios físicos difíceis, inclusive com a descarga de neurotransmissores específicos para “pormos em marcha”.
Nesse sentido, o autocontrole, associado especificamente ao controle emocional do medo, é outra característica moral que propicia o agir intrépido, a superação da ação física desafiadora. Assim, ao desenvolvermos o autocontrole em decisões éticas, através de uma alfabetização emocional consciente, podemos utilizar esse mesmo controle emocional em situações fisicamente difíceis.
Uma terceira influência da coragem moral na aquisição de coragem física é a disciplina. A coragem moral, por si só, já requer disciplina e comprometimento consigo mesmo para seguir valores éticos conscientes e tomar decisões difíceis. Essa mesma disciplina pode ser aplicada à prática de exercícios físicos, ajudando a manter uma rotina regular de atividades que promovam força e saúde.
Outra influência importante da coragem moral na coragem física é o respeito próprio. Quando somos capazes de tomar decisões éticas difíceis, nos sentimos mais confiantes e orgulhosos, aumentando a percepção de valor que temos de nós mesmos. É esse respeito próprio, quando transferido para o âmbito orgânico, que estimula o cuidado com o corpo e a prática de atividades físicas, que redundam em aumento da capacidade de ação.
Desse modo, conclui-se, ainda parcialmente, que a coragem moral estimula a coragem física. A motivação oriunda de um propósito forte, o autocontrole relacionado a alfabetização emocional, a disciplina fruto da regularidade e o respeito próprio que aumenta a capacidade de ação são elementos morais que se relacionam à robustez ética, à superação do medo, ao comprometimento consigo mesmo e ao aumento da percepção de valor pessoal. Quando conquistamos o “espaço mental” onde depositamos a coragem moral, fica fácil empregá-la através de coragem física, sempre que for necessário.
3. CONCLUSÃO
Mens sana in corpore sano é uma citação latina do século I, do poeta romano Juvenal, cuja tradução popularmente conhecida significa “mente sã em corpo são” e que já relacionava o mundo físico e as instâncias metafísicas.
Em síntese, podemos dizer que existe uma retroalimentação entre propósitos pessoais e desafios físicos, entre controle emocional e alfabetização emocional, entre entre regularidade e recuperação e entre uma avaliação positiva de si mesmo e o aumento da capacidade de ação.
Conclui-se, dessa maneira, que existe sim uma influência, inclusive de base neurológica, de um bom condicionamento físico no comportamento ético individual – e vice-versa.
Ainda, que as principais influências desse bom condicionamento físico traduz-se em robustez ética, superação do medo, comprometimento consigo mesmo e aumento da percepção de valor pessoal.
Por fim, da análise entre a coragem física e a coragem moral, podemos confirmar que um bom condicionamento físico pode influenciar positivamente o comportamento ético individual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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